Dona Laura, costurava atentamente em sua sala quando, de repente, sentiu sobre os olhos a pressão de duas mãos gorduchas.
_Quem é? Gritou-lhe uma voz alegre junto ao ouvido.
Dona Laura sorriu e respondeu prontamente:
_É um menino gaiato que gosta muito de passear na chácara da vovó Joana.
As duas mãos gorduchas se afastaram logo, um beijo gostoso ressoou na sala, e a carinha sardenta de um garoto de 7 anos apenas, apresentou-se junto ao rosto de Dona Laura.
Era Gilberto, o filhinho querido, que tinha ido passear na chácara da vovó.
_Gostou de passear? Perguntou a mamãe beijando-o também.
Os olhos do menino brilharam de entusiasmo ao descrever o que vira na chácara da avózinha
Citou as frutas gostosas que comera, As árvores cheias de flores e de frutas. As plantas viçosas e floridas, enfim que passeio mais lindo! Descansara debaixo de uma linda jabuticabeira carregada de jabuticabas. Vira também as plantações diversas, como o milho, mandioca e batata doce. As coelheiras que tanto admirava.
_Que lindos os coelhinhos, como se ainda os estivesse vendo. Uns brancos, outros escuros....E como são engraçados! Os olhinhos vermelhos, as orelhas bem de pé.
E notando que a mãe o escutava com um sorriso atento, Falou ainda nos ninhos dos passarinhos.
_Os filhotes, explicou ele, quase não tem penas e estão sempre de bico aberto, esperando o alimento que as mamães vão buscar, as vezes bem longe. E no entusiasmo falou de como alimentam os filhotes. _Elas colocam o bico dentro do bico dos filhos e lá deixam a comida. Depois, acrescentou, como se estivesse pensando em voz alta: "Se não fossem as mães, os filhotes morreriam de fome; coitados! São tão fraquinhos! Não podem voar."
Mamãe Laura disse carinhosamente:
_A bondade de Deus é tão grande, meu filho, que ninguém fica sem proteção.
Gilberto nada respondeu no momento. Aproximou-se da janela que dava para o jardim e olhou para o Céu. Estava lindo! Todo colorido! Vermelho, rosa, levemente dourado. Era a hora do por do Sol. Olhou as flores, as avizinhas que cruzavam os ares, fugindo da noite que se aproximava...
Depois como se estivesse pensando em vós alta, murmurou:
_Deus é muito bom! Eu o amo muito, muito....Gostaria tanto que ele soubesse!
Então mamãe Laura falou comovida:
_Deus nosso Pai, te dará oportunidade de provares se realmente o amas.
Gilberto ia dizer mais alguma coisa, quando naquele momento, abriu-se a porta e papai entrou, sorridente. Mãe e filho levantaram-se logo para receber o paizinho. Na manhã seguinte, o menino, como de costume, depois do café, foi olhar o jardim. Abriu a janela e...
_Oh! exclamou muito assombrado, que foi que aconteceu?
É que as plantinhas estavam dobradas para o chão, algumas mesmo com as raízes quase arrancadas.
_Choveu toda a noite, explicou Dona Laura. Chuva acompanhada de ventania. Coitadas! Devem estar sofrendo.
_Vamos socorre-las? Convidou ele, correndo logo para o jardim. Mamãe Laura nada respondeu, mas sorriu feliz, e foi ajudar o filho. Em pouco tempo as plantinhas estavam novamente erguidas, presas em estacas, com raízes bem firmes. Gilberto satisfeito olhou para a rua e viu um cãozinho muito molhado da chuva, que olhava para ele ganindo tristemente.
_Coitadino, parece que esta pedindo socorro....E com o consentimento de Dona Laura, recolheu o animalzinho e enxugou-lhe o pelo molhado. Logo apareceu o dono do cãozinho e levou-o muito satisfeito, depois de agradecer a Gilberto.
Mais tarde passou por ali, um pobre velhinho, carregado de pacotes, o maior se desprendeu-se das mãos. Gilberto, de um salto pegou o embrulho antes que caísse no chão.
_Obrigado pequeno! Nem sabes o bem que me fazes, disse o pobrezinho com voz tremula, isso é do meu patrão. São louças, explicou ainda assustado.
O menino ficou contente e a mãe tornou a sorrir feliz.
Ao anoitecer, o pai chegou muito resfriado, queixando-se de grande mal estar. Gilberto foi logo buscar o chinelo, pois percebeu que os sapatos de seu pai estavam molhados. Quando o paizinho se deitou, ajeitou-lhe os travesseiros. O pai olhou para a mãe e ambos sorriram. Naquela noite, Gilberto já deitado, ouviu de dona Laura estas palavras:
_Durma filho, tranquilo, por quatro vezes, hoje, destes provas de ter amor a Deus.
_Por quatro vezes? Quais? Perguntou curioso.
A mãe somente lhe respondeu:
_Pensa um pouco e ficaras sabendo. Gilberto ficou só, deitado na cama, pensando, pensando.
_Já sei... gritou ele, sentando-se na cama, já sei.... E como Dona Laura não voltou, novamente, sorriu e murmurou: Que bom... Mas hei de provar o meu amor a Deus, ainda por muitas outras vezes. E assim dizendo, cerrou os olhos e adormeceu feliz. Lembrando aqueles versos que diz:
A noite, poderás dormir
Se disseres satisfeito.
Eu hoje, pratiquei o bem.
Não tive o dia vazio
Trabalhei, não fui vadio
E não fiz mal a ninguém.
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